domingo, 17 de junho de 2012

O PODER DO PENSAMENTO NA MINHA TRANSFORMAÇÃO com Ricardo Gonçalves


terça-feira, 5 de junho de 2012

Eu e o amanhã (Paulo de Tarso)


Eu adorava sextas feiras. Ao chegar em casa, via os móveis sobrepostos e o cheiro inexorável da limpeza. Era dia de faxina. Minha mãe, exemplar dona de casa, arrumava, com a companheira do trabalho diário, o lar, passando cera no chão, enceradeira e óleo de peroba nos móveis de madeira (jacarandá, peroba e companhia). Era uma cena que aguardava com anseio todos os dias da semana.
Na segunda, acordávamos com o sabor de um domingo aonde a música de encerramento do Fantástico e das séries que vinham logo depois (Havai 5.0, Dalas, Casal 20), tinham o sabor da mensagem de que a “festa acabou”. Hoje é dia de batente.
Terça feira era dia de expectativa. Meio de semana, provas, testes e aventuras. Isto tudo se misturava na quarta e, na quinta, já a alegria do provir da sexta. De volta ao mundo! Thanks god , Today is Friday!
Hoje vejo que a nossa referencia de tempo são as nossas expectativas. O que faz uma semana passar mais devagar ou rápida é a espera de que algo nos aconteça em uma data futura. Se a expectativa é muita, olhe o relógio atrasando o passo! Se nem ligamos para isto, num piscar de olhos e lá se foi o dia, a semana, o ano e, à reboque, a vida.
Os nossos dias são repletos de expectativas. Pensamos em nossos filhos grandes, na faculdade. O que será da vida deles? Acertamos ou erramos? Seremos velhos sadios ou doentes? Ricos ou pobres? Solitários ou felizes? Quais foram as escolhas? Como será o amanhã? Responda quem souber! Vivendo o amanhã, perdemos a delicia do dia de hoje. Os convites às escolhas, as dores sentidas e as reflexões realizadas. Os amigos que nos acenam com flores as quais olhamos por cima, ficam para trás. O Hoje é o certo, eu já o tenho e o experimento com a minha mais profunda arrogância.
O tempo vai passando e aquilo que era um pequeno detalhe passa a ir fazendo a diferença. Estradas são seguidas, caminhos paralelos, gente que nos olha e por quem olhamos, vão ficando em suas paragens, fruto das suas escolhas. Amigos de infância casam-se, vão viver em outro país. Filhos crescem e abandonam o lar. Parentes vão ficando na estrada da vida, vitimados pela certeza do perecimento da carne. E nós? Vamos andando em nossas vidas olhando o amanhã, abandonados à própria sorte.
O convite da vida é eterno. Viva o agora! Pense em como ser feliz hoje e assim construir um caminho de felicidade para o amanhã. Não pensemos que as nossas agruras de hoje vão se transformar em rosas perfumadas pelo passar do tempo. Dores não sentidas são feridas que não saram. As cicatrizes doem enquanto abertas, mas nos acalentam com lembranças e experiências quando se fecham.
Sem querer, olhando as sextas feiras deixei de ser criança, fiquei adolescente e mudei apenas os meus anseios. O que eram móveis sobrepostos virou a espera pelos 18 anos. Depois dos 18, a formatura e, depois dela, os empregos, o sucesso, o crescimento. Hoje eu tenho 47 anos e me pergunto: e o hoje? O que eu estou fazendo? Quais as minhas expectativas para o amanhã? A resposta pronta que me vem à cabeça é...O amanhã é o reflexo do hoje e não existirá enquanto não fizermos as nossas apostas entre o nascer e o por do sol.
Quem sabe amanhã eu sinta o cheiro da cera ou a lembrança do esperado primeiro beijo. Quem sabe eu sinta a presença daqueles queridos irmãos de estrada ao meu lado, ou apenas a lembrança deles, mas o que eu preciso lembrar é que cada dia traz em si o seu sabor. Vive-los, exaurir cada sorriso dos meus filhos, cada gesto da esposa amiga, cada segundo dos meus queridos pais e amigos, cada gota dos segundos, para que caiba em mim apenas a saudade e a certeza de que nesta vida eu vivi, não havendo nenhuma expectativa maior do que esta.