segunda-feira, 18 de fevereiro de 2013

Um belo dia em minha vida... (Paulo de Tarso)


Um belo dia em minha vida...
(Paulo de Tarso)

- Olá, como vai? Lembra-se de mim? Como não? Sou aquela criança que te conheceu desde que você nasceu, que está ao seu lado desde os primeiros acordes de choro pronunciados por você humano.
- Não, não me recordo de ter tido contato com outra criança neste momento. As únicas impressões e lembranças que tenho são as do momento em que nasci. Aquela dor imensa, aquela aflição por que passamos, eu e a minha mãe, para que pudesse vir ao mundo. E você? Onde estava nesta hora?
- Ao seu lado, sofrendo esta dor com você. Enquanto nascia eu anotava tudo para que jamais se esquecesse daquele momento.
- Como assim? Daquela dor quero apenas o esquecimento. Por que haveria de querer me lembrar dela no futuro ao ponto de desejar alguém que a registrasse?
- Certamente que sim! Porém estas dores representam a nossa entrada na vida. Talvez, um dos momentos mais importantes de cada encarnação. Ali percebemos a conexão com aquela que nos guiará pela vida, nossa querida mãezinha, e ali passamos a sentir o nosso corpo integrado totalmente ao eu Espirito, que agora vive na terra. Um dia, sem querer, vai me pedir para lembrar.
- Mas, mesmo assim, não me recordo de você. Fale-me mais disto
- Pois é, eu também estava ao seu lado enquanto você chorava no berço e a sua mãe fazia de conta que não ouvia. Certamente para lhe dizer que nem tudo na vida será conseguido através do choro. Você lembra? Eu também percebi e anotei no meu caderno que, neste momento, você achou que ela não te amava e que não queria saber dos seus sentimentos. Como você era muito pequeno, certamente não tinha capacidade de entender as muitas facetas do amor e, orgulhoso como toda criança deve ser, você, achando que não era amado, iniciou a trajetória para odiar aqueles a quem deveria amar. Achei importante registrar isto, pois, um dia, sem entender o que houve, necessitaria voltar a este momento para perdoar a si e aos seus pais.
- Mas, eu nunca odiei meus pais! Logo eles, meu maior tesouro. Bem se vê que você não me conhece!
- Entendo a sua duvida, querido amigo, mas nem tudo aquilo que sabemos é o que de fato cremos. Você lembra do momento em que seus pais estavam juntos e que você tentava a todo custo estar entre eles? Aquele ciuminho de criança era a dor de sentir o compartilhamento de um amor que você acreditava ser só seu. Lembra também do nascimento da sua irmãzinha? Ali foi um golpe duro de suportar. Como aquele alienígena entraria em sua vida? Quem ela pensava que era para chegar assim, no seu ninho, sorrateiramente roubando aquele bem mais precioso? Enquanto você se distraia nas suas brincadeiras, eu anotava tudo. Em todos estes momentos abria-se o caminho para a raiva que você iria sentir. Entenda que uma criança é um ser indefeso, totalmente dependente dos seus orientadores. Qualquer ameaça de afastamento representa a sensação do fim iminente. Daí a dor, daí o sofrimento, dai a raiva.
- Mas eu não sei por que você insiste nisto. Eu não sinto raiva dos meus pais!
- Não? Pois bem. Quantas vezes já escondeu o que sentia por saber que ninguém dava a mínima para isto? Quantas vezes você já se achou menor do que de fato é? Quantas vezes se viu destruindo aquele lindo sonho que imaginou para si? Quantas vezes falou coisas como, “ah! Isto só acontece comigo”, vendo o  “isto” acontecer uma série de vezes sem que nenhuma explicação fosse dada? Você pensava que eram as pessoas que te magoavam, não é? Pois bem, como seu amigo e biografo das suas dores lhe afirmo, em todas estas vezes foi a sua culpa por odiar aqueles a quem deveria amar que lhe causou todos estes problemas.
- Agora você passou dos limites! Eu sou meu maior inimigo?
- Não é bem assim caro amigo. Pensando deste jeito, daqui a pouco outro sentimento de culpa emergirá em você. Odiar-se a si mesmo. Vá com calma, que você já tem problemas demais. A auto-sabotagem é a forma que você encontrou de purgar-se, de pagar pelo erro que você, inconscientemente, cometeu. Você trará para a sua vida as imagens daquela dor. Nos momentos em que a felicidade brotar a sua frente você pensará coisas como: E agora? O que virá depois? Quais sofrimentos me aguardam por experimentar tanta felicidade? – Estes pensamentos serão originados no seu eu interior dizendo – “Você não merece ser feliz”.
- Bem, se o meu problema era com amor, basta encontrar alguém a quem ame, minha alma gêmea, e automaticamente tudo isto acabará. Ainda sou jovem e logo isto acontecerá.
- Vá com mais calma ainda meu dileto amigo! A pergunta que não quer calar é: Você já aprendeu a amar?
-Hahahahahaha! Que piada! Desde quando se precisa saber amar? Para amar, basta amar. Não é assim?
- Claro que é! Mas o amor que aprendemos a ter quando criança é o amor utilidade -  Eu te amo e você me protege – assim é desde a mais longínqua geração dos seus pais. Eles também amam assim. Experimente não corresponder a um gesto de amor dos seus pais para ver se eles não se machucarão bastante com isto. Ou você achava que tudo isto só acontecia com você?
- Como ousa verme imundo? Além de me ofender agora você ofende os meus queridos pais? O que você deseja afinal?
- Amada criança! Esqueci de apresentar um outro amigo que está presente desde o inicio da nossa conversa. Aqui está o Orgulho, filho legitimo do seu Ego, portanto parente próximo à você. Ele tem sido o seu grande amigo desde a infância. Quando começava a sentir as dores das duvidas ele aparecia para brincar e te distrair. Logo achava uma “compensação” para a sua dor e te levava para bem longe daqueles pensamentos. Viu como somos ingratos? Se alguém pergunta por ele certamente dirá, “Orgulho? Não, não sei quem é!”. Mas não se preocupe, isto não é privilegio seu, todos somos assim.
- Voltando ao meu caso de amor, doutor sabe tudo. Como isto tudo poderá me impedir de ser feliz?
- Simplesmente assim. Certamente buscará para sua companhia aqueles cujas características se assemelhem aos seus supostamente ausentes pais e, com a conquista do seu amor, encontrará enfim o porto seguro anelado desde a infância. Certamente, da mesma forma que agia com os seus pais, dará amor na medida em que dele receba, afinal isto é uma troca justa. O seu parceiro, como filho das mesmas circunstancias, fará o mesmo. Enquanto os seus hormônios corporais disserem para esquecer estas idiossincrasias, vocês se entregarão em uma paixão química regada a gotas de dopamina, oxitocina, e outras neuroaminas. Ao final desta farra química, restará aquilo que for a essência desta relação. Se os dois buscarem a mesma coisa (amor utilidade, não se esqueça), haverá um desencontro de expectativas e um aguardará o outro fazer o seu ato de amor para que o outro possa fazer o mesmo. Este impasse levará anos, até que se descubra que a vida acabou e que não entendemos nada daquilo que viemos fazer aqui. Se um achar-se mais culpado que o outro, se anulará como compensação por suas culpas, pelo fato de saber-se indigno de ser amado. Será aquele relacionamento onde um mártir se sacrificará pelo sucesso do  projeto pessoal do seu par. Infelizmente, tanto esforço resultará em mais mágoa, menos crescimento espiritual e, da mesma forma, uma vida perdida.
- Então, senhor desesperança, não há saída para nós? Muito obrigado por me fazer desistir de lutar por uma vida melhor!
- Calma doce criança! Jamais faria isto com aquele a quem tanto amo. Existe uma forma de resolver isto tudo.
- Enfim, uma boa noticia, fale sem demora, oh desmancha prazeres!
- Antes de continuar, gostaria de apresentar também uma amiga. Esta também, sem que o perceba, está presente em todos os momentos em que acha que não há saída. O seu nome é Projeção, e ela será a sua condutora a guiar os seus pensamentos para, assim com agora faz comigo, encontrar um culpado por tudo que lhe acontece. Ela traz sempre uma compensação. Agora, vamos à solução. Aprenda a amar e tudo se resolverá!
- Eu sabia! Eu sabia! Mais um falso profeta. É só dar uma soluçãozinha subjetiva, daquelas cujos passos da execução ficam no ar, e pronto! Livrou-se de mim. Objetivamente, como é que se deve amar?
- Amando verdadeiramente. Em primeiro lugar, tome estes textos nos quais, com muito carinho, anotei tudo que se passava por você, longe do Orgulho, do ego e das projeções que lhe diziam todo o tempo que a culpa não era sua, embora, lá no fundo, você soubesse que era. A vergonha de saber-se culpado fê-lo colocar tudo no fundo do inconsciente. Os textos o farão lembrar. Em seguida, volte no tempo e veja o quão pouco estava preparado para entender toda aquela trama de amor, aquela coisa de amar sem esperar retorno, o compartilhamento do ser amado, e perdoe-se, perdoe-se por não saber entender aquilo no momento certo. A seguir, perdoe os seus pais, eles não têm culpa de também, assim como você, não terem aprendido a amar livremente. Todos somos aprendizes do amar verdadeiro, afinal, foi para isto que viemos aqui. Entendida esta parte, libere-se da culpa. Você odiou as pessoas por entendê-las erradamente, assim, por não haver mais motivo, perdoe-as. Assuma que é verdadeiramente justo e bom, dentro das suas limitações e que, apenas tornando-se consciente de tudo isto, poderá atingir a felicidade que tanto espera. Ame, sem esperar retorno, sem negociar o seu amor como compensação por suas perdas sentimentais. Procure libertar-se de novas culpas e assuma o ser que verdadeiramente é, livre de todas as pedras que a sua infância lhe apresentou. Depois deste tortuoso e longo caminho, experimente amar, amar verdadeiramente. Tudo em sua vida será diferente. As pessoas não mais serão a razão de erros cometidos, o destino estará em suas mãos, a felicidade será a paisagem de cada passo do seu caminho, e  eu, enfim, após derradeiro encontro, poderei partir.
- Não caro amigo, quando eu tiver atingido tudo isto, quero você por perto. Agora você poderá anotar as minhas vitórias ao invés de apenas as minhas derrotas. Afinal isto é justo não é?
- Fico feliz por ter entendido a lição e o propósito da minha visita. Ficarei feliz em visita-lo sempre que for necessário, e prometo jamais fazê-lo esquecer dos motivos da sua libertação. Agora, feche os olhos e, quando abrir, inicie a sua nova jornada. Seremos companheiros de viagem e, jamais se esqueça, todos estão na mesma trilha, seguindo o mesmo destino, por isto, mesmo que avance em suas conquistas, não se ache mais do que aqueles que ainda não lograram êxito em encontrar-se. A humildade e o amor verdadeiro são irmãos inseparáveis. Onde um estiver o outro verdadeiramente estará. Use-os como faróis e guias.
- Mas, enfim, agora que somos mais próximos, me diga: quem é você?
- Eu sou a sua consciência amadurecida. Portanto, durma sossegado que, quando acordar, seu mundo jamais será o mesmo.

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