quarta-feira, 14 de agosto de 2013

Ser ou Não Ser Espírita? Eis a Questão. (Paulo de Tarso)

Ser ou Não Ser Espírita? Eis a Questão.

Realizamos em nossa casa, todas as quartas feiras, uma doutrinária nos moldes do evangelho no lar. O evangelho aberto a esmo, um texto, e um palestrante que o comenta, abrindo em seguida para comentários e dúvidas da audiência presente no dia. Com uma linguagem simples, exemplos do quotidiano, além dos textos oficiais lidos e comentados, a sessão transcorre sem maiores altercações, mesmo porque, dentro desta metodologia, é comum recebermos perguntas relativas a curiosidades da doutrina, das questões humanas e da sua relação com a espiritualidade, de fácil resolução. Contudo, às vezes, não é isto que acontece.
Certa feita, após a leitura e comentários do orador, uma pergunta surgiu na plateia: “Eu sou Espírita ou Espiritualista? Qual a diferença entre os dois?
Facilmente respondível, bastava buscar as definições dogmáticas para esclarecer o tema: Espirita é todo aquele que acredita em Deus, na imortalidade da alma, na comunicabilidade dos Espíritos, na pluralidade dos mundos habitados e na reencarnação. Espiritualista é aquele que crê em um algo mais além da carne, possível de interagir conosco no ciclo das nossas vidas.
Tais respostas, embora corretas, carecem de sentido prático mais objetivo, sendo uma forma de deixar mais dúvida na mente daqueles que querem realmente compreender. Crer nos princípios da doutrina ou dizer que creio me faz espírita?  Frequentar uma casa espírita me faz espírita? Usar e abusar do arquétipo do Espirita me faz espírita? Ir para as ruas ajudar a um pobre, de quando em quando, me faz um verdadeiro espírita? Ler as obras de Kardec, sabendo pronunciá-las de cor e salteado, me faz um verdadeiro Espírita? Com a palavra, as nossas consciências.
Prevendo este tipo de dúvida, Kardec pronunciou:  “ Reconhece-se o verdadeiro espírita pela sua transformação moral e pelos esforços que faz para dominar suas más inclinações”. Observemos que ele não falou: Leiam meus livros, falem baixinho, se abracem sorrindo ou outros comportamentos típicos daqueles que se dizem espiritas. E isto torna a nossa resposta um pouco mais complexa.
Observando o movimentado movimento espírita, podemos ver uma chuva de vaidades, orgulhos em flor de pele, disputas internas de poder nas casas espíritas, irmãos protagonistas de hecatombes morais, assistindo ainda certo descuido com a diferença entre o ser e o não ser espirita. Ser espírita significa entender o que nos acontece após a vida carnal e, pela interação com os espíritos, a certeza de que usufruiremos de um paraíso prometido no reino dos céus. O contrário, não ser espirita, significa ficar na fila dos errantes umbralinos, dadas as perspectivas de avaliação negativa das suas consciências. Tal fato, embora ocorra, mostra-nos o quanto ainda estamos distantes de Kardec.
Muitas denominações religiosas se intitulam espíritas, pelo fato de que corroboram com a comunicação com o além. Contudo, o professor Rivail nos ensinou que as coisas do mundo espiritual são desvinculadas da terra, que a verdadeira evolução espiritual se dá na descoberta do ser em si, sem a necessidade de símbolos materiais para esta redenção. No espiritismo não existe Alo redenção e sim Auto Redenção. Por isto, a doutrinação de espíritos em metodologia mista (trazer os espíritos para as coisas da terra e usá-los por suas forças sobrenaturais) constitui ainda em  pouco entendimento do valor real da espiritualidade. Nenhuma doutrina ou religião é errada por fazer isto ou aquilo, mas podemos pensar em formas diferentes de ver a mesma coisa, confrontando a lógica de cada qual para um melhor entendimento. Quando Jesus falava que o “Reino do Céu é como...” em sete parábolas dirigidas aos apóstolos, se referia a algo que deve crescer em nós, e não vir para nós (um grão de mostarda, uma pérola, um tesouro, uma rede de pesca, etc). No caminho do átomo ao arcanjo proposto pelo espiritismo vemos um descamar do ser em busca do principio inteligente que o habita, percorrendo a Via Crucis das encarnações, intercaladas entre a redentora morte e o renascimento bendito. É uma busca interior, sem a qual nada se cria, tudo se ilude e afasta.
Assim, o espiritismo puro não é dogmático e pretencioso, como podem pensar alguns místicos confrades. É simples e livre, bastando para isto entende-lo (e não há outra forma de entendê-lo senão o estudo sistemático da literatura de base), e aprofundá-lo (através da vasta literatura séria complementar). Praticá-lo com a simplicidade da Sociedade de Estudos Espíritas, onde o pedreiro e o médico compartilhavam da mesma mesa, com a abnegação de quem crê que fora da caridade não há salvação, com a certeza de que somos espíritos e de que a vida é senão uma abordagem passageira para aplainarmos as nossas arestas morais, sem apegos desnecessários, ritualismos inúteis e ideias distorcidas de uma verdade fácil de ser conhecida.
Ser ou não ser espirita, será, portanto, uma condição moral, de realidade de vida, de verdadeira transformação do ser por conta do seu contato com a revelação vinda do mundo dos espíritos e corroborada pelo evangelho de Jesus. Aos que vivem esta verdade e seguem este caminho encontram inexoravelmente a Jesus, nosso mestre, mentor e guia, conforme ele mesmo assim o predisse, ou, ainda conforme Kardec: “São, afinal, os espíritas imperfeitos, alguns dos quais estacionam no caminho ou se distanciam dos seus irmãos de crença, porque recuam ante a obrigação de se reformarem, ou porque preferem a companhia dos que participam das suas fraquezas ou das suas prevenções. Não obstante, a simples aceitação da doutrina em princípio é um primeiro passo, que lhes facilitará o segundo, numa outra existência. Enquanto um se compraz no seu horizonte limitado, o outro, que compreende a existência de alguma coisa melhor, esforça-se para se libertar, e sempre o consegue, quando dispõe de uma vontade firme”.

Paulo de Tarso

Nenhum comentário:

Postar um comentário