Aproximando-se o dia da beatificação de Irmã Dulce, a cada momento cresce mais a curiosidade em torno de sua vida e obra. O que ela pensava? Como era ela? Como agia? Preparamos com muito carinho essa entrevista inédita para que você pudesse saber quais eram
as cogitações, os desejos e a religiosidade do "Anjo Bom do Brasil". Leia!
Irmã Dulce, eu gostaria de fazer uma série de perguntas. São perguntas
sobre temas diversos. Inicialmente desejava saber sobre a vida de uma pessoa
consagrada a Deus. Vou começar por ai...
Como devemos considerar a Vida de uma
pessoa Consagrada a Deus?
Irmã Dulce - Não existe
estado mais sublime do que o da pessoa que consagra sua vida a Deus. Devemos
ser evangelhos vivos, uma aliança no amor mútuo, uma íntima comunhão entre a
alma consagrada e Deus. A sublimidade da nossa vida está na doação total de
todo ser a Deus.
É certo que a Irmã se identifica com sua ordem
religiosa. Como é ser religiosa em sua congregação?
Irmã Dulce - Uma religiosa deve ser ativa, empreendedora, dar
bom exemplo, estar sempre trabalhando, executando os seus deveres, a sua
missão. Em tudo o que nos fizermos deve nos mover o desejo de fazer o bem às
pessoas, aproximá-las de Deus. Se temos um verdadeiro amor a Deus, devemos
querer que todos os nossos irmãos também o amem.
A
religiosa por si mesma deve ser um exemplo. Não somos anjos nem santos, porém
devemos fazer o máximo para que a nossa vida seja um exemplo.
Como assim?... Exemplo de que?
Irmã Dulce - Devemos ser evangelhos vivos.
A
vida religiosa é, antes de tudo, uma aliança de amor, em íntima comunhão entre
a pessoa consagrada e Deus. É necessário estarmos de coração generosamente
atento ao convite que Cristo faz, independentemente de qualquer condicionamento
humano.
Independente de...
Irmã Dulce -
"Só Deus basta", "Tudo é nada", Para mim, viver é
Cristo", "Por Ele considerei tudo como lixo", são expressões que
exprimem o elevado amor que atingiram os santos em relação a Deus. Procuremos,
como os santos, nos esforçar para alcançarmos a verdadeira perfeição na vida
religiosa.
Toda
a nossa vida deve ser em função do amor de Deus. Amemos, amemos com um amor sem
limites ao nosso amado Jesus. Amemos com um amor disposto a tudo sacrificar por
ele, que se sacrificou por nós. Se o amarmos assim, com um amor sem reservas,
seremos felizes aqui e na eternidade.
Seremos felizes!? Por que?
Irmã Dulce - Nas coisas mais simples, nos trabalhos mais
humildes, estamos fazendo o que Deus quer de nós, e isto basta. O principal
objetivo é o nosso ardente desejo de amar a Deus, de servi-Lo e buscar a
salvação das pessoas. Após cinquenta anos de vida religiosa, asseguro por
experiência própria: não há maior felicidade neste mundo do que a de servir a
Deus na pessoa do nosso irmão carente e sofredor.
A
nossa vida se transforma e passamos a viver a vida e os problemas do nosso
próximo, esquecendo-nos totalmente de nós mesmos.
Na
verdade, não existe nada mais sublime do que ser toda de Deus. Procuremos
coragem com a graça extraordinária que Deus nos concedeu através da vocação religiosa,
para cumprir os nossos deveres, sobretudo a oração, a caridade fraterna, a
humildade, o saber perdoar uns aos outros. E façamos o máximo para sermos bons
exemplos para o nosso próximo, para aqueles com quem vivemos.
Mas isto é difícil. É uma vida de muito sacrifício.
Irmã Dulce - A nossa vida é por certo uma vida de sacrifícios,
porém este sacrifício é para Deus. Quantos no mundo se sacrificam pelo amor do
mundo, atrás de uma vil recompensa, ou por ambição! O nosso sacrifício é
meritório. Se pensarmos bem no valor da vida religiosa, na sublimidade de nossa
vocação, seremos sempre muito felizes!
Não
devemos ficar parados na rotina de cada dia. Muito ao contrário, cada dia deve
ser para nós um novo incentivo para melhor servirmos a Deus na pessoa dos
nossos irmãos, do nosso próximo. O nosso trabalho é exaustivo: problemas
diversos, inúmeras dificuldades, incompreensões. Naturalmente é um trabalho
bastante difícil e exige muito de nós.
Procuramos
sempre ver nos doentes a imagem de Cristo Sofredor. As irmãs se esforçam ao
máximo em dedicação e cuidados aos pobres enfermos. Suas vidas são sacrificadas
em prol dos doentes.
Fonte: Coleção Cinco minutos com Deus e Irmã Dulce – Luzia Sena (org) São
Paulo, Paulinas, 2011
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