O que motiva a Irmã a dar tanta atenção aos pobres e doentes?
Irmã Dulce - Muita gente acha
que não devemos dar aos pobres a mesma atenção que damos às outras pessoas.
Para mim o pobre, o doente, aquele que sofre, o abandonado, (todos são) a imagem
de Cristo. Sempre recomendo às irmãs, aos funcionários, que vejam no doente que
bate à nossa porta o próprio Jesus e, assim, façam a ele o que faríamos se
Jesus em pessoa viesse nos pedir ajuda ou socorro.
Se olharmos o pobre desta maneira, então, todo o aspecto exterior, o
estar sujo, cheio de parasitas, com grandes chagas, não nos incomodará, pois na
sua pessoa está presente Cristo sofredor.
Pode dizer algo sobre sua obra, o Hospital, por exemplo?
Irmã Dulce - O nosso
hospital é como um navio navegando sobre a tempestade, mas que tem como
comandante Deus. Por isso ele segue calmo, sereno; nada o perturba.
Aqui não se diz ao doente para voltar dentro de oito dias. Aqui o doente
jamais é rejeitado. Sabemos que, se fecharmos a porta, ele morre. Se não tiver
lugar, a gente aperta, coloca até embaixo das camas, mas dá um jeito. A gente
vê no doente apenas uma pessoa de Deus.
Quando nenhum hospital quiser aceitar algum paciente, nós o faremos.
Essa é a última porta, e por isso não posso fechá-la. Não recuso ninguém,
porque o doente é a imagem de Deus.
Como a Irmã faria um apelo a favor de seus pobres e doentes?
Irmã Dulce - Ajudem-me!
Deem-me a possibilidade de ajudar esses pobres irmãos a saírem dos barracos
cobertos de papelão ou de latas velhas: famintos, desempregados, doentes; seus
filhos, suas mulheres também tem fome. E eles estão morrendo e não sabemos se
estarão vivos numa manhã, quando conseguirmos aquilo que é, sem dúvida alguma,
um sacrossanto objetivo.
Nossos velhinhos viviam na sarjeta, no chão. Agora tem conforto, amor e
todos os cuidados que qualquer pessoa deve receber.
Permita-me dizer que a Irmã não é imortal...
Irmã Dulce - (Não
sou...)
Assim sendo, pergunto o que a Irmã teria a dizer a quem a substituísse
em sua obra?
Irmã Dulce - Se quem vier me
substituir tiver fé, verá que Deus não faltará e que sempre conseguirá a
quantia necessária para as despesas. O nosso administrador, o secretário e
nosso auxiliar são testemunhas do que estou escrevendo. Quantas vezes não
tínhamos nada e chegava uma pessoa com um cheque que dava para pagar todos os
compromissos!
Deus é nosso organizador, o cérebro que tudo pensa e executa. Tudo que
vai com Deus e com fé vai bem. Não há progresso sem Deus, não há
desenvolvimento sem Deus, porque Deus é fraternidade, Deus é amor, Deus é
bondade, Deus é harmonia.
A Irmã...
Irmã Dulce - Um
instante... Vou terminar.
(Eu ainda diria para aquelas que me substituirão.) Espero que vocês
continuem firmes no ideal de servir a Deus na pessoa do pobre, da criança e do
doente. Não há nada melhor neste mundo do que se dar inteiramente a Deus.
Quanto mais nos damos a Deus, com os nossos sacrifícios, renúncias, vivendo não
a nossa vida, mas a daqueles que nos cercam, pessoas tão carentes, mais Deus se
dá a todos nós.
Imitem Jesus e os santos que viveram somente para ele. A felicidade
neste mundo consiste em servir a Deus com todo o amor, com toda a dedicação. As
lutas, os problemas da vida, tornam-se fáceis quando procuramos viver só para
ele.
À medida que os dias se passam, sinto-me cada vez mais feliz por Deus
ter me dado tão santa vocação. Jesus é tão bom! E eu, pobre criatura, não sei
com que retribuir. Penso que retribuir só com o pequeno amor do meu pequenino
coração, por mais amor que ele contenha, ainda é pouco para um Deus tão grande.
Peço-lhes que se esforcem o mais possível em dedicar a Jesus pequenos
atos de penitência, sacrifício, oferecendo-os para a conversão dos pecadores.
Jesus sofreu tanto por nós! Tudo que oferecemos a ele é pouco diante do muito
que fez para a nossa salvação. Procuremos viver em união, em espírito de
caridade, perdoando uns aos outros, e também as nossas pequenas faltas e
defeitos.
É necessário saber perdoar, saber desculpar, para vivermos em paz e
união. Numa comunidade, só pode haver paz, se soubermos aceitar e perdoar uns
aos outros.
Fonte: Coleção Cinco minutos
com Deus e Irmã Dulce – Luzia Sena (org) São Paulo, Paulinas, 2011
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