“Não procure a felicidade como destino. Faça dela a paisagem que te acompanhará por toda a aventura do seu existir”.
Uma gota de luz brota em nossa face cada vez que sorrimos. Este halo que reflete a divindade em nós é luz que não se vê, que brota lá do fundo da alma nos fazendo crer que somos muito mais do que apenas seres vivos sobre a terra. O sorriso é a porta que se abre para o céu.
Mas, por que não sorrimos o tempo todo? Por acaso, não é bom sorrir?
Onde há luz, há também escuridão. Onde há o sim, há também o não. Assim carregamos dentro de nós a alegria e a tristeza com iguais chances de acontecer. A tristeza, despertador da nossa consciência, chega como a noite chega apagando o dia. Escurece a alma, turva a visão e nos faz temer as suas surpresas, porém, apesar disto, traz como a lua o brilho prateado da reflexão sobre o mar das nossas convicções, permitindo-nos mudar o rumo da nossa nau, ao sabor de novos ventos. É assim que evoluímos; assim crescemos.
Quando submergimos em nossas tristes reflexões perdemos às vezes as forças vitais que nos movem. É a depressão, a melancolia, falsas tristezas. Alimentam-se das falsas impressões que temos do mundo, das pessoas e o pior, de nós mesmos, levando-nos ao fundo do poço da alma. Quando deixamos a tristeza chegar vendo-a apenas como a ruptura de um momento para outro em nossas vidas, podemos aproveitar o grande conteúdo que ela traz em si, abrindo os olhos para novas oportunidades que nos são destinadas.
Tristeza não é sinal de falta de felicidade. Pode ser, no máximo, contraditória à alegria. A felicidade, uma paisagem em nossa estrada por esta vida; tristeza e alegria, elementos desta paisagem. Um galho de folha seca que orna a copa de frondosa árvore, normalmente se destaca por ser diferente, mas não impede a árvore de dar os seus frutos em abundancia. Um dia de tristeza em um percurso de toda a existência é como este galho seco em frondosa árvore.
Quando eu era pequeno e as pessoas me perguntavam o que gostaria de ser quando crescer eu dizia que queria ser feliz. Triste ilusão a minha! Ninguém pode dizer que felicidade é destino. Pessoas há que dizem que seriam felizes se tirassem na megasena, ou se casassem com um príncipe encantado, ou que tivessem a força de um Hércules ou a beleza de Afrodite. Este é o mundo onde os hospitais psiquiátricos estão cheios de homens ricos, atléticos e bonitos e de mulheres idem. Buscar a felicidade após a realização de “coisas” é como retirar de nossas vidas a presença constante dos sentimentos, que ladeiam a nossa existência, a nossa paisagem existencial. Se eu acordo hoje e me sinto filho de Deus, agradecido pelo novo dia, já pus a alegria na beira da estrada. Olho para ela, me inspiro nela. Se sorrio para as pessoas irradiando luz, a luz que temos e que recebemos de Deus, lanço para fora uma energia que voltará dobrada ou triplicada por quantos sorrisos receba em retribuição ao meu. Mais uma árvore frondosa em minha paisagem de vida. São os pequenos gestos, as pequenas alegrias e as pequenas tristezas que fazem de mim o sal da terra.
Sentirei felicidade por quanto mais árvores de alegria plantar ao longo da minha trilha existencial. Quando mais frondosa for a vegetação deste jardim, menos importância terão os galhos secos na produção dos frutos da minha existência. Saber estar triste é diferente de sermos tristes. Receber a tristeza com sabedoria, sem deixarmo-nos envolver por ela é dádiva da vida real. O resto é ilusão. Não acredite em tristeza que dura muito, normalmente ela é auxiliada por coisas que não a pertencem. Alegria eterna também pode ser sinal de alienação, portanto também a receba com ressalvas. Saiba existir convivendo com os sinais. Alegria é sinal de acerto de caminhos e tristeza de que algo precisa ser cuidado, apenas isto. Estarmos atentos é sempre mais fácil e preciso do que nos perder nas tentativas frustradas de levar a vida como um fardo pesado do existir. Portanto, saibamos estar alegres e saibamos estar tristes, aceitando o fato de que Deus nos colocou aqui para fazermos da felicidade a motivação e o caminho para podermos encontra-lo.
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